sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Silêncio!

"Silêncio! A noite, negra como um pecado mortal, enrola véus de crepe na quietude da natureza adormecida. Com meus pés de chumbo caminho lentamente. Fechando-se-me as pálpebras, nunca pensei que meus próprios passos pudessem fazer tanto barulho. As coisas têm uma coloração estranha. Não há contrastes. Acabou-se a festa de ruídos e colorações.
Silêncio...
De repente, altíssimo, longo que nem o último gesto dos que tombaram, e como a tristeza de um gemido, um som metálico fere fundo o silêncio cansado da solidão noturna.
O bom piquete de dia, há pouco amigo e jovial, ali, de pé sobre as lajes, dentro do pórtico, empunhando o clarim, toma proporções de um gigante de ébano, arrancado das longínquas e fantásticas regiões da África.
É o toque em surdina, que já presidiu o crepúsculo dos mais cruentos combates e fez baixar ao seio da terra mãe os corpos de milhares de nossos irmãos de armas.Dorme em paz, aluno da Escola de Especialistas de Aeronáutica.
Dorme em paz. As lutas de um dia de labor exauriram-te as forças. Deste mais um passo na tua trajetória feliz. Conquistaste um pedacinho do futuro, e é justo, necessário mesmo, que descanses. Se houver estrelas no teu chão sonhado, apanha-as uma a uma, para engastá-las no céu risonho dos teus ideais. Fica tranqüilo nesses leitos brancos, que tua mãe baixinho reza uma oração sublime, tua noiva saudosa tem palavras belas, e teus irmãos trazem nos lábios o teu nome sagrado e que ninguém esquece.É findo o toque de silêncio.

(...)

Estrelajada, a noite compõe um poema de brilhos e fulgurações, enquanto os sapos, lá na lagoa escura, cantam em coro sua canção querida."
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(Este poema foi encontrado em uma apostila de datilografia da EEAR, na PACO, onde o Sgt. André Luís, uma grande pessoa, não admitiu ter sido ele a compor tão notável texto... Qualquer um que tenha sido sentinela, que tenha ouvido o toque de silêncio, lacrimeja ao ler estas linhas...)

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